Um estudo inédito de pós-doutorado, o Projeto Salivar, desenvolvido pelo Cirurgiã-Dentista Rodrigo Elias, relaciona alimentação, tártaro e saúde bucal. A pesquisa irá avaliar, a partir do tártaro, a saúde bucal de pessoas com diferentes dietas.
Em sua tese de doutorado, no Instituto de Biociências da USP, Rodrigo trabalhou com arqueologia dentária para um estudo de tártaro e alimentação em crânios da região de San Pedro de Atacama, no Chile. “Agora, porém, a investigação não será mais em crânios escavados, mas em pessoas vivas, o que é uma novidade e um desafio”, explica.
Segundo o pesquisador, o caminho de eliminação do nitrogênio produzido na digestão de proteína animal pela saliva, favorecendo o acúmulo de tártaro, é bem conhecido. “Mas não há trabalhos clínicos mostrando, por exemplo, se as pessoas que comem mais carne são as que acumulam mais tártaro”, afirma Rodrigo.
No trabalho com os crânios, analisar o tártaro foi tarefa relativamente mais simples. Na época em que viveram essas populações, como ainda não havia a escovação, há sempre bastante material presente nos dentes. Hoje é bem diferente. “Pode ser que a pessoa coma arroz todos os dias, mas ele não apareça no cálculo dental, e que o milho que ela comeu apenas em um dia apareça. Talvez com essa pesquisa comecemos a entender como o cálculo é formado, o que gruda mais nesse tártaro e o que não gruda. É um tipo de informação que ainda não temos”, diz.
O Projeto Salivar vai avaliar 250 pessoas divididas em cinco grupos: onívoros ou generalistas; comunidades ribeirinhas da Amazônia (generalistas); ovolactovegetarianos; veganos; e portadores de doença celíaca e pessoas com alimentação sem glúten. A partir de questionários e anotações, será levantada como é a alimentação dessas pessoas. Elas receberão atendimento na clínica da Faculdade de Odontologia da USP, onde serão coletadas saliva e placa bacteriana e também dadas orientações sobre saúde bucal.
Rodrigo conta que já foi questionado se ele, de fato, vai encontrar tártaro para seu estudo. “Não importa se são pessoas instruídas ou não, ninguém faz a higiene 100%. Sabemos que temos que escovar os dentes e passar fio dental, mas às vezes somos negligentes”, responde. No momento, o pós-doutorando está convocando voluntários para seu estudo.
Sua carreira como dentista no consultório anda junto à sua vida de pesquisador. Por isso, Rodrigo optou por não pedir a bolsa de pós-doutorado. Para financiar o Projeto Salivar, deu início a uma campanha de financiamento coletivo na internet. Em um vídeo, explica o que é o projeto e o que será feito com o dinheiro arrecadado.
A iniciativa é afinada com o objetivo do projeto, que é envolver as pessoas com a ciência. “A academia, por vários motivos, é uma coisa distante do público. Não adianta produzir um monte de ciência que fique só conosco”, defende o pesquisador.
Coordenador do projeto, Rodrigo conta com vários outros colegas para sua ambiciosa empreitada. Um especialista em bioquímica salivar, uma microbiologista e uma pesquisadora na área de arqueobotânica estão entre os membros da equipe multidisciplinar. “O projeto tem um número inicial de pesquisadores, mas não tem um número final: qualquer pessoa que tenha uma boa ideia; uma dúvida que se encaixa em nossa investigação, e vontade de trabalhar, é bem-vinda”, afirma.
Serviço: projetosalivar@gmail.com
Fonte: Jornal Odonto
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